Embolsando a literatura

Sex, 09 de Setembro de 2011 13:20
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Em criança, eu adorava livros “de bolso” – edições aparentemente mais baratas do que os volumes encadernados em capas duras ou não, com letras diminutas e que, realmente, cabiam nos bolsos dos casacos. Não só aquelas edições em papel menos nobre me encantavam. Sempre tive fascínio pelos requintados livrinhos com letras decoradas nas capas, em ortografia entupida de “ph” e “ll”, infinitos acentos, trazendo novelas que exalavam o sofrimento romântico de portugueses como Camillo Castello Branco, as dores espalhadas por Göethe ou ainda nas “seletas”, coletâneas de textos escolhidos para a leitura dos meninos de escola, na primeira metade do século XX – e que meus pais guardaram a vida inteira para meu deleite.

Meu encantamento com essas miudezas vem do tempo em que Os Meninos da Rua Paulo, de Ferenc Molnár, foi lançado no Brasil, com tradução do querido e saudoso professor Paulo Rónai, numa edição da Ediouro. Ou no mais surpreendente presente que ganhei na vida, Um Capitão de Quinze Anos, de Jules Verne, que o dono de uma livraria me deu, ao ver uma criança interessada em literatura.  A ideia de que tais volumes fossem descartáveis jamais me passou pela cabeça – tenho ambos até hoje, com as páginas manchadíssimas de fungos amarelados.

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Para quem reclama de preço de livro – um dos poucos produtos que passa incólume às variações inflacionárias -, é mais que possível montar uma biblioteca toda em “pokets”. As editoras brasileiras redescobriram o formato há uns cinco anos. A Saraiva acaba de lançar sua coleção de bolso, inicialmente com apoio do catálogo da Nova Fronteira – mas podendo utilizar o acervo de outras editoras. E lá vêm belos clássicos, como Cai o Pano, de Agatha Christie, A Ilíada, de Homero, Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, A Náusea, de Jean Paul Sartre, entre outros 40 títulos, com preços entre R$ 9,90 e R$ 22,90. As capas têm desenhos de Loredano. A ideia é apresentar 15 livros ao mês – e todos, absolutamente indispensáveis para os leitores mais exigentes.

 

 

 

 

 

 

A Best Bolso, que pertence ao grupo Record, também conta com um catálogo invejável – e não só de clássicos, mas também de seus bestsellers, entre eles exemplares da mais autêntica literatura de entretenimento, como “chicklit” e thrillers. As capas de novas edições de clássicos, como os romances de Jane Austen, Henry James e Edith Warthon, trazem belas imagens de pinturas da época das histórias, enquanto as de F. Scott Fitzgerald mostram fotografias de melindrosas e dândis dos “Anos Loucos”. Os preços dificilmente ultrapassam os R$ 20. Livros que não apenas cabem nos bolsos e nas bolsas, mas, principalmente, no tamanho certo para os orçamentos apertados.

mansfield  nolimitedarazao

Sobre Olga

Para alguns, existem deuses e religiões; minha devoção se dirige à literatura. Assim surgiu este blog, um dos milhões que nascem a cada segundo no planeta. Sem pretensões, só para compartilhar um dos prazeres solitários mais subversivos e incompreendidos de que dispomos.
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