Para ler na rede

Divinos e maravilhosos

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gilbertobempertoA mais nova parceria de Gilberto Gil é com a jornalista Regina Zappa, que assina com ele a biografia Gilberto Bem Perto (Nova Fronteira, R$ 59,90), reunindo não só as recordações deste monstro sagrado de nossa música, mas depoimentos de parentes e amigos, textos dele mesmo, reportagens e um farto material fotográfico. A história pública do autor de peças antológicas como Aquele Abraço, Domingo no Parque e Palco é bastante conhecida; a particular, a vida com a família, os quatro casamentos, oito filhos, as passagens pitorescas protagonizadas por esse doce baiano, emerge das páginas com a mesma intensidade que ele imprime à música.

A princípio, a biografia seria lançada a tempo das comemorações de 70 anos do compositor, mas acabou saindo exatos onze meses depois. Regina começara, em 2011, a pesquisar e fazer entrevistas, além de editar os textos que o próprio Gil vinha escrevendo há tempos. A imersão no universo de Gil torna a biografia uma coletânea de fatos que mostram a realidade brasileira cuidadosamente entrelaçada aos movimentos do músico que chegou a ser ministro da Cultura, mostrados com a proximidade de quem priva dos momentos íntimos, caseiros do biografado. O carinho pela família e pelas companheiras – quantos homens conseguem reunir numa fotografia as ex-mulheres e a atual? – , a ousadia em incorporar novos ritmos gêneros musicais, buscando o tronco comum da composição brasileira, africana e latino-americana, a dedicação à “deusa música”, além de casos pitorescos se estendem numa leitura tão saborosa quanto a obra de Gil.

docelar1968Regina Zappa é portadora de admirável cacoete jornalístico, o de falar sobre a vida alheia sem jogar luz para seu próprio brilho como exímia contadora de casos. O único depoimento a respeito da experiência com Gil está na orelha do livro, uma apresentação que poderia ser um prefácio, uma introdução da reportagem completa sobre o músico, compositor, cantor, político e militante, que “carrega para onde vai todas as suas marcas, todos os seus perfis”. Regina já escreveu biografias em forma de grandes reportagens sobre Chico Buarque e Hugo Carvana, além da ficção policial Doce Lar (Rocco, R$ 25) e o almanaque sobre as movimentações que tomaram o mundo em 1968 – Eles só queriam mudar o mundo (Zahar, R$ 54). Em Gilberto bem perto, todas essas formas de narrar estão mescladas – exceto a ficcional, já que a realidade é por si só um relato de criações inspiradíssimas e inovadoras. E não faltam passagens divertidas, como a do show que fez, anos depois de voltar do exílio, pois era promovido pelo militar que lhe trouxe um violão para que se distraísse no quartel onde ficou preso, em 1969. Ou a recusa em revelar a localização de um cofre ao ladrão que o mantinha refém, durante o assalto a seu sítio: “Vai procurar. Você não é o assaltante, não entrou na minha casa? Então, esse trabalho é seu”.

Sobre Olga

Para alguns, existem deuses e religiões; minha devoção se dirige à literatura. Assim surgiu este blog, um dos milhões que nascem a cada segundo no planeta. Sem pretensões, só para compartilhar um dos prazeres solitários mais subversivos e incompreendidos de que dispomos.
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